domingo, 5 de setembro de 2010

Sobre o (re)começo

Faz tempo que não olho isso aqui. Como já disse por aí, eu não tenho muita paciência pra blogs. Mas aí me deu uma vontade de escrever sobre o tempo...

Quando é que a gente começa a se sentir parte disso tudo? É tão bom se sentir dentro, dentro. O tempo está cinza, a casa silenciada, o único som que vem é o do radinho de pilha que meu pai ouve - ele repete o gesto dos antepassados - e que não consigo entender bem o que falam. O chiado é característico de domingo. Ah, como eu já me angustiei com isso tudo. Como já foram difíceis os tempos em que o cinza era feio.

Saber que o mundo é assim porque é, porque as coisas tem que ser. Porque a lágrima é bonita e a vida também. Não penso que as coisas não mudam. Elas mudam, tudo que está aqui já foi um não-ser algum dia, disso meu dedos tem certeza. Quando eu digo que as coisas são assim, penso no universo imenso.

Porque hoje está cinza e meu espírito também? Não, a melancolia não me pegou. Estou plena, assim como o cinza ou como o laranja-pôr-do-sol. Ou como as nuvens de maio.

As cores pra mim sempre foram mais do que cores. "Me diga, menina, em que mês nasceu?" e eu dizia "Abril"- automaticamente me vinha à cabeça um castelo rosa, rosa e então eu me perguntava se todo mundo remetia os meses às cores. É mais ou menos assim:

Janeiro: branco ou cinza, porque é tranquilo (mesmo que o calor às vezes venha pintá-lo de laranja), porque nada se tem à fazer, mês da preguiça.

Fevereiro: esse é branco também, porque é irmão do janeiro.

Março: oscila entre azul e cinza porque as chuvas vêm e cessam o verão preguiçoso.

Abril: tenho que confessar uma coisa: quando eu era pequena, me vinha rosa (como naquele castelo que lhes tinha falado). Mas hoje em dia é laranja, só que laranja não pode. Laranja é a cor de setembro. Aí me confundo e não sei se ele é um branco alaranjado macio ou rosa.

Maio: sem dúvida azul. Azul petróleo, tem uma melancolia grande.

e por aí vai...

Só não posso esquecer é de setembro: é laranja. Sabe aquelas pinturas do van gogh cheias de flores no campo? é assim que penso nele, laranja e macio e não laranja macio (será que estou me tornando minha mãe?)

Dito isso, já posso voltar para o tempo (me refiro ao tempo cinza, azul, laranja ou branco). Porque minha cabeça pensa em cores? Diga-me uma única palavra que te direi a cor dela.

O sorriso e o abraço são amarelos. amarelo-girassol. ovelha é bem branquinha, mas também pode ser azul macio. madeira também é macio. já cimento é cinza-áspero. computador é verde que espeta.

enquanto houver domingo com abraço amarelo tudo será mais bonito; o mundo está por um momento em silencioso equilíbrio...